Quem somos?

Ana Alves
António Rebelo
Cristina M. Fernandes
Lídia Pereira
Luís Rei
Marta Almeida
Paulo Azevedo
Zazie

Colaborador de estimação

Repórter Lírico

Nadador-salvador

Henri Michaux

Desaparecido

Escrivão Bartleby


janela_indiscreta@hotmail.com

on-line

 
Arquivos
<< current





Pesquisar os arquivos da Janela:


[pesquisa disponibilizada pelo serviço FreeFind]

 

SALA DE EXPOSIÇÕES

Boogie Woogie



SALA DE LEITURA

a poesia vai acabar



HÁ UM TRAÇO AZUL

IF no ar

um som profundo do Outono

IF (8 abril 2004)

IF (verão 2004)



O NOSSO CORRESPONDENTE
EM COIMBRA


innersmile



ACTUALIDADES

Frescos



BLOGS CÁ DE CASA

A aba de Heisenberg

¦a¦barriga¦de¦um¦arquitecto¦

Abrupto

A Causa foi modificada

A Corneta

Adufe

A formiga de langton

A Espuma dos Dias

A Lâmpada Mágica

Almocreve das Petas

A memória inventada

A Montanha Mágica

A Natureza do Mal

António Reis

aoeste

A Oeste Nada de Novo

Apenas um pouco tarde

A Praia

avatares de um desejo

Aviz

Barnabé

Beco das Imagens

Bisturi

Blasfémias

Blog de Esquerda

Blogue dos Marretas

Borras de Café

Campo de Afectos

chafarica iconoclasta

cócegas na língua

Conta Natura

Contra a Corrente

Conversas de Café

Crítico

Crónicas da Terra

Cruzes Canhoto

daily dose of imagery by Sam Javanrough

desassossegada

Dias com árvores

Don Vivo

Dragoscópio

Driving Miss Daisy

Engrenagem

Epicentro

Epiderme

Errância

Espigas Reloaded

esplanar

flux+mutability

Fora do Mundo

Ford Mustang

freira dadaísta

Fumaças

Gávea

Glória Fácil

Grande Loja do Queijo Limiano

Guil

Hipatia

Húmus

Indústrias Culturais

Íntima Fracção

Juramento sem Bandeira

Kafka Sumiu em Belo Horizonte?

laranja amarga

Leitura Partilhada

little black spot

MacJete

martaverissimo.net

Mar Salgado

Modus Vivendi

¦Murmúrios do Silêncio¦

Não esperem nada de mim

No Arame

Nocturno 76

Notícias do cais

Oceanos

O céu ou las vegas

O céu sobre Lisboa

O Cheiro a Torradas pela Manhã

O Farol das Artes

O Gato Fedorento

O Intermitente

Os Espelhos Velados

OzOnO

Palavras da Tribo

Pastilhas

Percepções do meu olhar...

Pessoas de Romance

Planeta Reboque

Prazer Inculto

Quartzo, Feldspato & Mica

quase em português

rainsong

Reflexos de Azul Eléctrico

Retorta

roda livre

Ruialme

Seta Despedida

saudades de antero

Silencio

Sous les pavés, la plage!

Tempo Dual

Textos de Contracapa

Thelma & Louise

There's Only 1 Alice

Timewatching

tomara que caia

torneiras de freud

triciclofeliz

um mundo imaginado

Vermelhar

UmbigoNiilista

UmblogsobreKleist

universos desfeitos

Vidro Azul

Vila Dianteira

Viver todos os dias cansa

Voz do Deserto

Welcome to Elsinore

What do you represent

100nada



GONE WITH THE WIND

A Coluna Infame

Alfacinha

Bicho Escala Estantes

Caim & Abel

Desejo Casar

Dicionário do Diabo

Espigas ao Vento

Flor de Obsessão

intrusos

Kafka Sumiu em Belo Horizonte

Lérias...

My Moleskine

O Companheiro Secreto

Outro, eu

O tal Canal

Pintainho


Janela Indiscreta
 
sábado, dezembro 06, 2003  
O terrorista… olha

A bomba vai explodir no bar às treze e vinte.
São neste momento treze e dezasseis.
Alguns conseguem ainda entrar,
alguns sair.

O terrorista passou já para o outro lado da rua.
A esta distância ficará livre de perigo
e, quanto a vista, é como no cinema:

Uma mulher de casaco amarelo… entra.
Um homem de óculos escuros… sai.
Rapazes de jeans… conversam.
Treze horas, dezassete minutos e quatro segundos.
Aquele baixinho tem sorte e senta-se na vespa,
mais um tipo alto que entra.

Treze horas, dezassete minutos e quarenta segundos.
Passa uma moça de fita verde nos cabelos.
Só que o autocarro oculta-a.

Treze e dezoito.
A rapariga desapareceu.
Se foi bastante estúpida para entrar ou não,
isso se saberá pelas notícias.

Treze e dezanove.
Parece que ninguém entra.
Há porém um careca gordo que sai.
Mas olha, parece que procura algo nos bolsos,
faltam treze segundos para as treze e vinte,
e ele volta a entrar em busca das luvas que perdeu.

São treze e vinte.
Como o tempo voa.
Deve ser agora.
Ainda não.
Sim, é agora.
A bomba… explode.


Wislawa Szymborska, “Paisagem com grão de areia”
© Relógio d’Água

posted by Anónimo on 15:32


 
Madame Bovary, c'est moi





J'ai voulu être le plus fidèle possible au texte de l'auteur. J'essaie de faire le film qu'il aurait fait s'il avait eu une caméra au lieu d'une plume.
Il fallait que j'arrive à le faire pour pouvoir continuer à me regarder dans la glace. C'est une nécessité profonde, parce que Madame Bovary correspond à mon rêve d'œuvre d'art, où fond et forme ont autant d'importance l'un que l'autre et s'exaltent réciproquement. Le roman contient dans un récit limité et daté une sorte de condensé de toute l'histoire du monde. C'est une de ces œuvres qu'il ne faut pas toucher, à moins d'avoir la folie d'oser. Comme Gustave Flaubert, il m'est arrivé de passer l'après-midi à rajouter une virgule que j'avais mis la matinée à supprimer. Il y a très peu de dialogues dans le livre, mais tous les dialogues du film sont des phrases de Flaubert. J'ai travaillé sous l'œil de Gustave, un portrait qui me regarde tantôt avec bienveillance tantôt avec sévérité.


Pierre-Marc de Biassi, "Un scénario sous influence" extrait d'un entretien avec Claude Chabrol: in "Autour d'Emma Bovary", Hatier, collection "Brèves de cinéma"

Amanhã às 19h40 no arte.

posted by Anónimo on 15:27


 
Lilya para sempre



“Terás toda a eternidade para estar morta...
mas apenas algum tempo para viver.”

Volodja – diálogos do filme

Lilya, de 16 anos, vive num pobre e desolador subúrbio, algures na antiga União Soviética. Sonha com uma vida melhor. A mãe dela mudou-se para os Estados Unidos com um namorado novo e Lilya está à espera que a mandem buscar. Mas o tempo passa, a mãe não escreve nem manda dinheiro e torna-se óbvio que Lilya foi abandonada. É forçada a mudar-se para um pequeno apartamento em mau estado, sem electricidade nem aquecimento. Muito triste e sem dinheiro, a situação de Lilya torna-se desesperante. O seu único amigo é Volodya, um rapaz de 11 anos que ela às vezes deixa dormir no sofá. Passam muito tempo juntos e fantasiam sobre uma vida um pouco mais fácil. Um dia, a esperança renasce quando Lilya se apaixona por Andrei, que a convida para ir com ele para a Suécia, começar uma nova vida. O pequeno Volodya fica com ciúmes e desconfia – mas Lilya faz as malas. De repente ela vê-se num avião a caminho da Suécia sem saber o que vai acontecer a seguir.

Lilya 4-ever é o filme mais sombrio de Lukas Moodyson, não só pela forma como ele o escreve e o filma, mas acima de tudo pela sua temática – a escravidão sexual infantil, nas redes de prostituição internacionais sem, no entanto, abandonar o ponto de vista iniciado nos trabalhos anterios, que passa pela questão da inadaptação e do abandono.

Com desempenhos surpreendentes dos jovens actores principais, Oksana Akinshina e Artiom Bogucharskij, respectivamente Lilya e o seu único amigo, a força do filme é mais uma vez sublinhada pela escolha de uma banda-sonora atordoante, que mistura Rammstein com Alphaville e Vivaldi.

© texto e imagem Zero em Comportamento

Amanhã na Casa das Artes (Porto).

posted by Anónimo on 15:23


 
Sou um desses cidadãos invisíveis

Sou um desses cidadãos invisíveis que se arrastam, ao sabor do vento, pela Austurstraeti, e só faço notar a minha presença quando os vulcões entram em erupção dentro da minha alma.
Está um frio cerrado nos rostos das pessoas, pessoas tristonhas que deambulam como sombras.
Excepto no átrio da Livraria Eymundsson, onde estão em exposição as revistas faustosas.
Ministros e respectivas esposas sorriem; homens de negócios, políticos, artistas e actores olham com alegria pela janela.
A sociedade é como um conjunto de miúdos contentes em que ninguém fica lá fora ao frio.
Contorno a esquina, entro na Praça Hallaerisplanid e faço uma visita ao abrigo, no andar por cima da relojoaria, onde nós, os doentes que tratamos as nossas lutas com os problemas psíquicos, fumamos e bebericamos café com leite.

Einar Már Gudmindsson, “Anjos do Universo”
© Canguru

Sigur Rós > Svefn-G-Englar

© Fat Cat

posted by Anónimo on 15:02


sexta-feira, dezembro 05, 2003  
Alexandre Trauner desenhou estes cenários…


1939 > Le jour se lève


1943/44 > Les enfants du paradis


1962/63 > Irma la douce


1978 > Don Giovanni

… e muitos mais.

Ver também a exposição de fotografias na fnac de Santa Catarina.

posted by Anónimo on 17:19


 
ondas curtas

1.
Começar bem o dia é vestir uma camisola quente e confortável, escolher um perfume morno; receber boas notícias por mail; ter tempo para a crónica do João Bénard da Costa – As saudades, se sempre se repetem, nunca se repetem como foram ou como são. –; ler o segundo poema de Gymnopedías de Yorgos Seféris, traduzido por Manuel Resende; fazer mil planos para um fim-de-semana longo.

2.
Bem me queria parecer. Hoje confirmei a notícia no Inimigo Público, secção Obituário.

3.
Aqui é permitido roubar livros.
Roteiro para o ladrão perfeito: sair da Árvore com os livros no bolso, alargar a vista no Jardim das Virtudes; subir ao Centro de Fotografia, até à cela de Camilo, passar novamente pela cela das mulheres por causa das cores das paredes, ver as exposições que estão nas Enxovias, folhear os livros do Miguel Rio Branco na Livraria; ao lado, entrar na Igreja S. José das Taipas para tentar perceber o inexplicável (Exposição Martírio dos Santos, até 10 de Dezembro das 15h00 às 19h00); rondar as livrarias (Lello, Leitura e Poetria) e depois tomar um café de saco no Progresso.

4.
Le zéro n'existe qu'en arithmétique.
1 de 1 ne se peut retrancher, si 1 est un homme.

Henri Michaux, en français, ici.

5.
Foi a semana passada, devia ter estado lá. Queria ter estado, mas não consegui. Felizmente o Luís registou o concerto, ou será melhor dizer o combate?

6.
Para ouvir de tarde: The Listener

posted by Anónimo on 12:57


quinta-feira, dezembro 04, 2003  
Estranha Tipografia

Escrevi: "na obscura caverna do nosso nascimento".
O tipógrafo compôs "taberna", e parece melhor:
mas nisso redide a razão do riso,
pois na página a seguir vem "morte" por "sorte".
Talvez também a palavra de Deus fosse "distracção"
e em nossa estranha tipografia apareça "destruição"
– e é isso que é intolerável.

Malcom Lowry, traduzido por Herberto Helder
© Construções Portuárias #1

posted by Anónimo on 23:43


 
O Japão tem outros encantos arquitectónicos, Lídia. Entra por aqui...



"Such things as light and wind only have meaning when they are introduced inside a house in a form cut off from the outside world. The isolated fragments of light and air suggest the entire natural world. The forms I have created have altered and acquired meaning through elementary nature (light and air) that give indications of the passage of time and the changing of the seasons..."
Tadao Ando, "From Self Enclosed Modern Architecture Towards Universality," The Japan Architect, May 1992, p 9.

posted by Anónimo on 22:15


 
”Casa em que não há cão nem gato é casa de velhaco”

“Gostar ou não de gatos é de tal modo um sinal distintivo do carácter que há pessoas que se servem dessa circunstância como pedra de toque para avaliar os indivíduos que lhes apresentem. Mostram-se muito amáveis e, depois, na conversação, procuram logo saber se o interloctor gosta ou detesta os gatos. Se o apresentado embirra com os gatos, não entra na intimidade dos outros. Porque, dizem eles, quem compreende um gato respeita as convicções íntimas dos seus amigos.
O gato efectivamente, não se deixa dominar, deixa-se apenas persuadir. Quem o souber persuadir, obtém dele o que quiser.”

A. H. de Oliveira Marques, citando José Leite de Vasconcelos que, por sua vez, cita o jornal setubalense “O Trabalho” (data indeterminada). Excerto de "Introdução à História dos Gatos" publicado na Revista "Boca do Inferno” nº 8 de Julho de 2003.

As fotocópias do texto foram amavelmente oferecidas pelo Rui Amaral e o narizinho foi fotografado pelo Mário.

posted by Anónimo on 21:29


 
Pastime with good company / I love and shall until I die…



A Alpha fez cinco anos e resolveu juntar a família em Saint-Germain-des-Prés, dans La Crémerie: cozinha italiana, vinhos de Bourgogne e música...

posted by Anónimo on 21:05


 

Giovanni Bellini, Angel Announcing (detail), c. 1500, Oil on canvas, Gallerie dell'Accademia, Venice;
Giorgione, The Three Philosophers, 1509, Oil on canvas, Kunsthistorisches Museum, Vienna


Ao pôr do sol todas as cidades são maravilhosas, mas algumas são-no mais do que outras. Os relevos fazem-se mais brandos, as colunas mais redondas, os capitéis mais encaracolados, as cornijas mais resolutas, as flechas das torres mais nítidas, os nichos mais fundos, os discípulos mais bem togados, mais aéreos os anjos. Escurece nas ruas, mas continua a ser dia na Fondamenta e nesse gigantesco espelho líquido onde os barcos a motor, os vaporetti, as gôndolas, os batéis e as barcaças «como sapatos velhos em desordem» pisam diligentemente fachadas góticas e barrocas, não poupando também o nosso reflexo nem o da nuvem que passa. «Pinta», segreda-nos a luz de Inverno, detida no seu curso pela parede de tijolo de um hospital ou chegando ao destino, o paraíso do frontone de San Zaccaria, depois da sua longa travessia através do cosmos. E sentimos a fadiga dessa luz, que fica ainda a repousar, durante pouco mais de uma hora, nas conchas de mármore de San Zaccaria, enquanto a Terra oferece a sua outra face à luminária. Esta é a luz de Inverno no auge da sua pureza. Não traz consigo calor nem energia, tendo-os deixado pelo caminho algures no universo, ou nos cúmulos mais próximos. A única ambição das suas partículas é alcançar um objecto e, grande ou pequeno, torná-lo visível. É uma luz íntima, a luz de Giorgione ou Bellini, e não a de Tiepolo ou Tintoretto. E a cidade demora-se nela, saboreando o seu afago, a carícia do infinito de onde veio a luz. Um objecto é, afinal, aquilo que torna íntimo o infinito.

Joseph Brodsky, “A Marca de água”
© D. Quixote, Colecção Ficção Universal #137

posted by Anónimo on 20:37


 
All about Lily Chou Chou




Atenção! Este não é um filme como os outros. Não é um filme que se vê como os outros... Este é um filme que se sente... Que nos vai envolvendo numa teia composta pela magnífica banda sonora, algures entre Debussy e a própria Lily Chou Chou (seja ela quem for), e pela beleza enebriante da fotografia que nos transporta para um estado de levitação interior só alcançado quando de facto somos confrontados com algo que nos é ao mesmo tempo próximo e inatingível.

Sem darmos por isso e sem percebermos muito bem como, somos transportados para aquele período da adolescência em que tudo é extremado ao máximo, em que nada parece ter um sentido e as coisas mais ínfimas assumem proporções astronómicas. Nessa altura, em que as trocas de olhares significam o mundo e um leve e ocasional roçar de mãos nos faz ruborizar, também os ódios, ciúmes e invejas nos podem fazer tomar atitudes de que mais tarde nos podemos envergonhar.
É nessa idade também que somos capazes de nos entregar de alma e coração a uma música, a um disco ou a uma banda musical (e a um filme, também? Ou só a actores?). Que ficamos obcecados. Que somos capazes de defender até á exaustão os nossos artistas preferidos contra as mais absurdas acusações. Mas em que não temos a coragem de dirigir uma palavra à razão da nossa obsessão, aquela rapariga ou rapaz que tanto julgamos amar mas que não nos liga nenhuma. É a altura em que começamos a prestar atenção às letras das músicas e que começamos a descobrir que existe mais alguém como nós. Parece até que quem escreveu aquelas palavras passa exactamente pelo mesmo que nós. Nessa altura dá-se um processo de descoberta intenso e esgotante. Isolamo-nos do mundo e passamos a viver para aquelas palavras que continuam a fazer todo o sentido e a dar-nos o sentido de tudo. É como se mais nada existisse à nossa volta...


Rui Pereira, Zero em comportamento

Cine-Estúdio 222
4, 5 e 9 de Dezembro (5ª, 6ª e 3ª Feira) às 16h30, 19h e 21h45
8 de Dezembro (2ª feira) às 19h e 21h45


posted by Anónimo on 18:30


 
"Turn off your mind relax and float downstream.

Litkicks has been around since July 23, 1994, and we're still here. We never had a business model, which is why we don't have to go out of business now.

The site is devoted to a few experimental literary movements that tried to uncover some deeper truths about life. In studying the life stories of the writers as well as their works, there are sometimes even more interesting truths to be revealed than are found in the works themselves. We at Literary Kicks believe in deconstructionism as long as you clean up after you're done. And we do not believe masterpieces exist, nor do we want them to. We prefer the glory of brilliant mistakes."




Once there was Louis Armstrong blowing his beautiful top in the muds of New Orleans; before him the mad musicians who had paraded on official days and broke up their Sousa marches into ragtime. Then there was swing, and Roy Eldridge, vigorous and virile, blasting the horn for everything it had in waves of power and subtlety--leaning to it with glittering eyes and a lovely smile and sending it out broadcast to rock the jazz world. Then had come Charlie Parker, a kid in his mother's woodshed in Kansas City, blowing his taped-up alto among the logs, practicing on rainy days, coming out to watch the old swinging Basie and Benny Moten band that had Hot Lips Page and the rest Charlie Parker leaving home and coming to Harlem, and meeting mad Thelonious Monk and madder Gillespie--Charlie Parker in his early days when he was flipped and walked around in a circle while playing. Somewhat younger than Lester Young, also from KC, that gloomy, saintly goof in whom the history of jazz was wrapped; for when he held his horn high and horizontal from his mouth he blew the greatest; and as his hair grew longer and he got lazier and stretched-out, his horn came down halfway; till it finally fell all the way and today as he wears his thick-soled shoes so that he can't feel the sidewalks of life his horn is held weakly against his chest, and he blows cool and easy getout phrases. Here were the children of the American bop night.

Jack Kerouac


posted by camponesa pragmática on 16:01


 
There was an old woman

There was an old woman who swallowed a fly,
I don't know why she swallowed a fly,
Perhaps she'll die.
There was an old woman who swallowed a spider,
That wriggled and jiggled and tickled inside her,
She swallowed the spider to catch the fly,
I don't know why she swallowed the fly,
Perhaps she'll die.

There was an old woman who swallowed a bird,
How absurd! to swallow a bird,
She swallowed the bird to catch the spider,
That wriggled and jiggled and tickled inside her,
She swallowed the spider to catch the fly,
I don't know why she swallowed the fly,
Perhaps she'll die.

There was an old woman who swallowed a cat,
Imagine that! to swallow a cat,
She swallowed the cat to catch the bird,
She swallowed the bird to catch the spider,
That wriggled and jiggled and tickled inside her,
She swallowed the spider to catch the fly,
I don't know why she swallowed the fly,
Perhaps she'll die.

There was an old woman who swallowed a dog,
What a hog! to swallow a dog,
She swallowed the dog to catch the cat,
She swallowed the cat to catch the bird,
She swallowed the bird to catch the spider,
That wriggled and jiggled and tickled inside her,
She swallowed the spider to catch the fly,
I don't know why she swallowed the fly,
Perhaps she'll die.

There was an old woman who swallowed a goat,
Just opened her throat! to swallow a goat,
She swallowed the goat to catch the dog,
She swallowed the dog to catch the cat,
She swallowed the cat to catch the bird,
She swallowed the bird to catch the spider,
That wriggled and jiggled and tickled inside her,
She swallowed the spider to catch the fly,
I don't know why she swallowed the fly,
Perhaps she'll die.

There was an old woman who swallowed a cow,
I don't know how she swallowed a cow!
She swallowed the cow to catch the goat,
She swallowed the goat to catch the dog,
She swallowed the dog to catch the cat,
She swallowed the cat to catch the bird,
She swallowed the bird to catch the spider,
That wriggled and jiggled and tickled inside her,
She swallowed the spider to catch the fly,
I don't know why she swallowed the fly,
Perhaps she'll die.

There was an old woman who swallowed a horse,
She's dead—of course!

posted by picatostes on 12:36


 
O Siza e a Taschen

Eu sei que é um lugar-comum, mas o que é que querem? Gosto do Siza Vieira. Muito. Por isso, não consegui resistir quando encontrei este livro:



Muito, muito bonito.

posted by picatostes on 12:30


quarta-feira, dezembro 03, 2003  
Approach of Winter

The half-stripped trees
struck by a wind together,
bending all,
the leaves flutter drily
and refuse to let go
or driven like hail
stream bitterly out to one side
and fall
where the salvias, hard carmine -
like no leaf that ever was -
edge the bare garden.

William Carlos Williams




© Geoffrey Tyrell



Winter Trees

All the complicated details
of the attiring and
the disattiring are completed!
A liquid moon
moves gently among
the long branches.
Thus having prepared their buds
against a sure winter
the wise trees
stand sleeping in the cold.

William Carlos Williams

posted by camponesa pragmática on 17:12


 

© Josef Koudelka

posted by camponesa pragmática on 15:35


 
Hiroshima, meu amor



Em Hiroshima no Inverno, o que é que resta? Como é que se reconstrói a vida e o amor?

Logo às 21h30 mais perguntas no Auditório de Serralves.

– Tu n’as rien vu à Hiroshima. Rien.
– J’ai tout vu. Tout... Ainsi l'hôpital je l'ai vu. J'en suis sûre. L'hôpital existe à Hiroshima. Comment auris-je pu éviter de le voir?
– Tu n'as pas vu d'hôpital à Hiroshima. Tu n'as rien vu à Hiroshima...
– Je n'ai rien inventé.
– Tu as tout inventé.
– Rien. De memê que dans l'amour cette illusion, cette illusion de pouvoir ne jamais oublier, de même j'ai eu l'illusion devant Hiroshima que jamais je n'oublierai. De même que dans l'amour.



posted by Anónimo on 13:11


 
De um ponto de vista estritamente intelectual é sempre muito interessante seguir o movimento de um pêndulo em direcção ao caos.


posted by camponesa pragmática on 11:57


 
"this is just the sort of blinkered philistine pig-ignorance I've come to expect from you non-creative garbage"

Scene: A large posh office. Two clients, well-dressed city gents, sit facing a large table at which stands Mr. Tid, the account manager of the architectural firm. (original cast: Mr Tid, Graham Chapman; Mr Wiggin, John Cleese; City Gent One, Michael Palin; Client 2:, Terry Jones; Mr Wymer, Eric Idle)
Mr. Tid: Well, gentlemen, we have two architectural designs for this new residential block of yours and I thought it best if the architects themselves explained the particular advantages of their designs.
There is a knock at the door.
Mr. Tid: Ah! That's probably the first architect now. Come in.
Mr. Wiggin enters.
Mr. Wiggin: Good morning, gentlemen.
Clients: Good morning.
Mr. Wiggin: This is a 12-story block combining classical neo-Georgian features with the efficiency of modern techniques. The tenants arrive here and are carried along the corridor on a conveyor belt in extreme comfort, past murals depicting Mediterranean scenes, towards the rotating knives. The last twenty feet of the corridor are heavily soundproofed. The blood pours down these chutes and the mangled flesh slurps into these...
Client 1: Excuse me.
Mr. Wiggin: Yes?
Client 1: Did you say 'knives'?
Mr. Wiggin: Rotating knives, yes.
Client 2: Do I take it that you are proposing to slaughter our tenants?
Mr. Wiggin: ...Does that not fit in with your plans?
Client 1: Not really. We asked for a simple block of flats.
Mr. Wiggin: Oh. I hadn't fully divined your attitude towards the tenants. You see I mainly design slaughter houses.
Clients: Ah.
Mr. Wiggin: Pity.
Clients: Yes.
Mr. Wiggin: (indicating points of the model) Mind you, this is a real beaut. None of your blood caked on the walls and flesh flying out of the windows incommoding the passers-by with this one. (confidentially) My life has been leading up to this.
Client 2: Yes, and well done, but we wanted an apartment block.
Mr. Wiggin: May I ask you to reconsider.
Clients: Well...
Mr. Wiggin: You wouldn't regret this. Think of the tourist trade.
Client 1: I'm sorry. We want a block of flats, not an abattoir.
Mr. Wiggin: ...I see. Well, of course, this is just the sort of blinkered philistine pig-ignorance I've come to expect from you non-creative garbage. You sit there on your loathsome spotty behinds squeezing blackheads, not caring a tinker's cuss for the struggling artist. You excrement, you whining hypocritical toadies with your colour TV sets and your Tony Jacklin golf clubs and your bleeding masonic secret handshakes. You wouldn't let me join, would you, you blackballing bastards. Well I wouldn't become a Freemason now if you went down on your lousy stinking knees and begged me.
Client 2: We're sorry you feel that way, but we did want a block of flats, nice though the abattoir is.
Mr. Wiggin: Oh sod the abattoir, that's not important. (He dashes forward and kneels in front of them.) But if any of you could put in a word for me I'd love to be a mason. Masonry opens doors. I'd be very quiet, I was a bit on edge just now but if I were a mason I'd sit at the back and not get in anyone's way.
Client 1: (politely) Thank you.
Mr. Wiggin: ...I've got a second-hand apron.
Client 2: Thank you. (Mr. Wiggin hurries to the door but stops...)
Mr. Wiggin: I nearly got in at Hendon.
Client 1: Thank you.
Mr. Wiggin exits. Mr Tid rises.
Mr. Tid: I'm sorry about that. Now the second architect is Mr. Wymer of Wymer and Dibble. (Mr. Wymer enters, carrying his model with great care. He places it on the table.)
Mr. Wymer: Good morning gentlemen. This is a scale model of the block, 28 stories high, with 280 apartments. It has three main lifts and two service lifts. Access would be from Dibbingley Road. (The model falls over. Mr Wymer quickly places it upright again.) The structure is built on a central pillar system with... (The model falls over again. Mr Wymer tries to make it stand up, but it won't, so he has to hold it upright.) ...with cantilevered floors in pre-stressed steel and concrete. The dividing walls on each floor section are fixed by recessed magnalium-flanged grooves. (The bottom ten floors of the model give way and it partly collapses.) By avoiding wood and timber derivatives and all other inflammables we have almost totally removed the risk of.... (The model is smoking. The odd flame can be seen. Wymer looks at the city gents.) Frankly, I think the central pillar may need strengthening.
Client 2: Is that going to put the cost up?
Mr. Wymer: I'm afraid so.
Client 2: I don't know we need to worry too much about strengthening that. After all, these are not meant to be luxury flats.
Client 1: Absolutely. If we make sure the tenants are of light build and relatively sedentary and if the weather's on our side, I think we have a winner here.
Mr. Wymer: Thank you. (The model explodes.)
Client 2: I quite agree.
Mr. Wymer: Well, thank you both very much. (They all shake hands, giving the secret Mason's handshake.) Cut to Mr. Wiggin watching at the window.
Mr. Wiggin: (turning to camera) It opens doors, I'm telling you.

posted by camponesa pragmática on 11:36


 
More Than Rain



It’s more than rain that falls on our parade tonight
It’s more than thunder
It’s more than thunder

And it’s more than a bad dream, now that I’m sober
Nothing but sad times
Nothing but sad times

None of our pockets, are lined with gold
Nobody’s caught the bouquet
And no dead presidents we can fold
Nothing is going our way

And it’s more than trouble, I’ve got myself into
It’s more than woe-begotten gray skies now

And it’s more than a bad dream, now that I’m sober
There’s no more dancing
There’s no more dancing

And it’s more than trouble, I’ve got myself into
Nothing but sad times
Nothing but sad times

None of our pockets, are lined with gold
Nobody’s caught the bouquet
And no dead presidents we can fold
Nothing is going our way

And it’s more than goodbye, I have to say to you
It’s more than woe-begotten gray skies now

And it’s more than goodbye, I have to say to you
It’s more than woe-begotten gray skies now

And it’s more than woe-begotten gray skies now

Tom Waits

posted by Anónimo on 10:56


terça-feira, dezembro 02, 2003  


Robert Welsh, Untitled (Hallway), 2001 e Untitled, (Chair), 2001
From the series: Chinatown, San Francisco

posted by Anónimo on 16:11


 
sob escuta



Anouar Brahem, oud | François Couturier, piano
Jean-Louis Matinier, acordião | André Kertész | máquina fotográfica (Jardin des Tuileries, Paris, 1928)

Hipnótica, nostálgica, indolente, misteriosa, triste, difícil de classificar, doce. Doce como bagas de romãs.

posted by Anónimo on 13:25


 


Robert Welsh, Untitled (Mailboxes), 2000 e Untitled, (Doorbells), 1997
From the series: Chinatown, San Francisco

posted by Anónimo on 10:22


segunda-feira, dezembro 01, 2003  
Acabou

Acabou. No sábado a sala estava cheia, os músicos foram exemplares, a soprano Deborah York estava linda e cantou na perfeição. Não sei se havia por lá alguém da PT, espero que não, isso diminuiria o meu prazer, sem dúvida. Os músicos retribuíram as flores com um encore "alegre" no entanto, as últimas palavras do concerto que gravei foram as mais tristes e verdadeiras: I hope again to meet on earth, / but sure shall meet in heaven. O Rui Pereira fala com mais acerto sobre "L'appuntamento amoroso" na edição de hoje do Público.

Como despedida aqui ficam os quadros de Vermeer que nestes sete anos acompanharam os Concertos Em Órbita. As imagem foram retiradas deste site, onde encontram informação sobre cada uma das pinturas.


The Music Lesson (1997), The Astronomer (1998), The Allegory of Painting (1999)


The Girl with a Pearl Earring (2000), The Geographer (2001), A Woman Holding a Balance (2002)


Lady writing a Letter with her Maid (2003), Woman with a Water Jug (2004), Lady Seated at the Virginals (2005)

posted by Anónimo on 19:53


 
Laberinto de pasiones



O filme narra várias histórias de amor. A maioria delas com um final feliz e as outras com um final infeliz mas carregado de esperança. O par protagonista, em torno do qual se desenrola a história, é composto por Sexilia (uma jovem ninfomaníaca, membro de um violento grupo musical feminino, “Las Ex”, e filha de um famoso ginecologista) e Riza Niro, herdeiro de um imperador árabe exilado, mais interessado em cosmética e em homens do que em política internacional. O cenário da história é Madrid, a cidade mais desenvolvida, mais incómoda, mais selvagem mas também mais divertida do ocidente. Fala de música, violência verbal, perseguições, mudanças de imagem, fala de preconceitos com a obesidade, remédios para lábios secos e unhas frágeis, futuros cheio de incerteza e passados cujas memórias não podem ser apagadas.
Mas é, acima de tudo, um filme sobre o amor e as suas dificuldades.
Neste seu segundo filme, Almodóvar revela o seu estilo irreverente, recorrendo ao universo underground da época também nas cenas musicais. Trata-se de uma comédia cheia de caricaturas, onde o próprio Almodóvar tem uma participação notável, como director de uma fotonovela.


Zero em comportamento

Cine-Estúdio 222
1 de Dezembro, às 18h, 19h45 e 21h45
2 e 3 de Dezembro, às 17h, 19.15h e 21.45h

posted by Anónimo on 14:05


 
Biografia da dor

Onde eu ontem dormi é hoje dia de descanso. Em frente da porta
estão empilhadas as cadeiras e nenhuma das pessoas a quem
pergunto por mim me viu.
Os pássaros lançaram-se no espaço, para desenharem o meu rosto nas nuvens
por cima da minha casa e por cima do jardim dos mortos.

Conversei com os mortos e falei da guitarra do mundo,
que as suas bocas já não produzem nem os seus lábios,
os quais falam uma linguagem que ofende o cão do meu primo.

A terra fala uma linguagem que ninguém entende,
porque é inesgotável – dela arranquei estrelas e tirei pus
nos desesperos
e bebi vinho do seu jarro,
que é feito das minhas dores.

Estas estradas levam ao degredo. Ouço Deus
atrás de uma vidraça e o Diabo num altifalante
e os dois chegam juntos ao meu coração, que anuncia a ruína das almas.

Redemoinham as folhas, incessantes, nas ruas
e causam graves danos nos monumentos.
Quero, em Outubro, sonhar com a verdura.

Debaixo da porta está afixado um mandamento:
NÃO MATARÁS
- - - mas o jornal fala todos os dias de três homicídios,
que poderiam ter sido concretizados por mim ou por um dos meus amigos.
Leio estas notícias como uma fábula,
de uma facada para outra – sem me aborrecer.
Enquanto eles confundem carne e glória, a minha alma dorme
sob o movimento da mão de Deus.

Thomas Bernhard, “Na Terra e no Inferno”
Tradução de José A. Palma Caetano © Assírio & Alvim

posted by Anónimo on 11:10


domingo, novembro 30, 2003  

Encontramo-nos por aí?

Era de esperar. A Zero em Comportamento cansou-se: dos humores do público, da chuva, do frio, do calor, dos jogos de futebol na televisão, das estreias do cinema comercial ou dos ciclos de outros cinemas; dos humores da crítica e do espaço disponível nos jornais, nas rádios ou nas televisões;da falta de condições do Cine-Estúdio 222 e da inércia dos donos da sala; da falta de apoios (estamos cansados e desmotivados por, há que tempos, ouvirmos a Câmara Municipal de Lisboa ou o ICAM dizerem que, de facto, o nosso projecto é fantástico, maravilhoso, único, que merece de ser apoiado, mas até hoje não terem contribuido com nada de concreto!).

Conclusão: até melhores dias o projecto fica congelado.
É mais uma vitima deste "inverno" que nos roi os ossos.
Sempre apreciei o trabalho deles à distância e até com uma certa inveja. Não fossem os trezentos quilómetros eu estaria nas sessões, mesmo com o cheiro a mofo da sala e o frio, estaria lá.
A programação acaba agora em meados de Dezembro. Há apenas três filmes programados e um apelo. Aqui fica o registo, em discurso directo:

...
Gostaríamos de vos fazer um apelo para algo que poderia servir para alguma coisa, e que foi aquilo de que sempre necessitámos: Vejam os filmes que vos propomos para este mês de Dezembro! São só três filmes... São três filmes diferentes uns dos outros mas absolutamente fantásticos (é a chamada programação para todos os gostos....).

Aquilo de que sempre precisámos ao longo deste tempo todo foi de público... nunca gostámos de estar dependentes de subsídios ou apoios. A nossa existência justifica-se pelo público que temos a ver os filmes que apresentamos. Não fazemos o que fazemos para termos subsídios. Fazêmo-lo porque achamos que há muitos filmes fantásticos por esse mundo fora que nunca chegarão cá e porque sabemos que existe em Lisboa muita gente interessada em vê-los. Só precisam de vencer a preguiça e deslocar-se ao cine-estúdio 222!


1, 2 e 3 de Dezembro > Laberinto de Pasiones, de Pedro Almodóvar


4, 5, 8 e 9 de Dezembro > All about Lily Chou Chou, de Shunji Iwai


10, 11 e 12 de Dezembro > Hukkle, de György Pálfi


posted by Anónimo on 20:30


 
ON > Migala > Gurb Song



I wanted someone to enter my life like a bird that comes into a kitchen
And starts breaking things and crashes with doors and windows
Leaving chaos and destruction.
...


© Acuarela

posted by Anónimo on 14:43


 
Lucet margaritum in sordibus
et fulgor gemmae purissimae etiam in luto radiat*



Francis Bacon, Head I, 1949
Oil and tempera on board, 103 x 75cm. Collection of Richard S, Zeisler, New York)

”I’m an independent judge of despair,
which I know that life is, from birth to death.”
Francis Bacon (1909-1992)
Dono de si mesmo e tanto lhe bastou


Variação II sobre o tema “Agora é assim!”

Com três palavras, há uma interjeição moderna que reza o seguinte: “Agora é assim!”. O pior é que nunca “é assim”. Há porém uma arrogância sadia em tal brado, semelhante ao grito de guerra do patrão de hoje que passa aos súbditos aquele antegosto da vitória numa estratégia macroeconómica qualquer. Confesso não ter a energia e tempo necessários para lançar em lugar público os vocábulos mágicos dos que querem mandar. No quê? Ignoro. A que preço? Todos sabem. Por isso é grave o risco de quem vive na ignorância da indisciplina da gramática do triunfo. Que triunfo? Também não sei. Talvez por informação genética, sempre preferi a fidelidade ao caos aparente da intuição sensível, à precaução de quem a oculta nos relicários das perfídias diárias. É certo que o “homem prático” sempre teve aposentos apadrinhados. O fenómeno não é novo. Mas volteia agora no ar uma peçonha por estudar, mais letal que a arma química. É cinzenta, como a estupidez cromática. Mas como poucos sabem da alquimia das cores, o virús anda por aí a saltarinhar sem que se ouçam o rebate dos carrilhões ancestrais. Tudo pândega. E contudo “fumar mata”. E depois? os lerdos também matam, sem que haja campanha preventiva. Amnésia fatal, mais fatal que alcatrão e nicotina.
“Agora é assim!”. Que uma vez ao menos tal exclamação se cumpra. Aqui. Finis. Quanto aos outros, os que se entretêm no faz-de-conta da distração diária, bem hajam. A sério. (Por acaso não sei se é a sério.) Não há pessimismo em tudo isto. Se assim fosse, existiria algures um optimismo opcional, que só a cegueira dos asnos de profissão teima em afiançar. Há lucidez e ponto parágrafo. Como disse o mesmo Bacon acima citado: – “I’m an optimist; I’m an optimist about nothing”.
Em hora canalha, a minha gratidão para o meu filho João Miguel (que sempre esteve a meu lado) e para a minha família que teve a infinita paciência de me aturar oito anos, sem férias, fins-de-semana, feriados e demais ócios do calendário. (Não é uma confidência romântica; – é um testemunho amorosamente barroco). Reconhecimento ainda para quantos seguiram e apoiaram a fátua paixão que hoje se apaga. Finis.

Jorge Gil (1943- não sei)
29 de Novembro 2003
Texto publicado no programa de "L'appuntamento amoroso", último concerto Em Órbita

*Resplandece a pérola na imundície,
e o fulgor da gema puríssima brilha mesmo no lodo

posted by Anónimo on 13:19


 
Feedback by blogBack This page is powered by Blogger.