1. O Público tem uma nova rubrica sobre blogs. Chama-se “Gazeta dos blogues” e é assinada por Maria José Oliveira. Infelizmente não está on-line mas posso informar que o destaque de hoje recaiu na Montanha Mágica . Um blog belíssimo e inteligente. Parabéns Luís!
2. No artigo da Alexandra Lucas Coelho, Escritores (S)em Férias , fico a saber que o Manuel António Pina tem 13 gatos em casa o que me faz gostar ainda mais dele.
Agosto é um mês que convém às cidades que são nossas, como o Porto é dele. "Em Agosto, a cidade muda-se para o Sul de Espanha... É outra, mais ampla, mais lenta. De facto, acabo por mudar de cidade... E então aos domingos, quando os últimos resistentes partem com os filhos para as praias aqui à volta, fica mesmo diferente."
Espera por Agosto "como quem espera pelas férias". E que faz? "Não faço nada. E nos intervalos escrevo, que também é não fazer nada. Agora estou a preparar um livro de poemas... durmo com uma folha e uma caneta debaixo da almofada e a meio da noite quando me ocorre algo escrevo às escuras. O não fazer nada é estar comigo mesmo, acompanhar-me."
3. Amanhã a rtp 2 exibe “Adeus terra firme” ,um filme delicioso de Otar Iosseliani. Para rever enquanto não estreia por cá “Lundi matin”
4. Começou a debandada de Agosto. A cidade fica por nossa conta: a foz, o rio, os jardins, os museus…
A culpa foi da Marta e da Ana. Quando estiveram no Porto falaram com tanto entusiasmo do bookcrossing que não tive outra alternativa senão aderir a esta biblioteca sem sede. A ideia é boa e até romântica: partilhar os livros de que gostamos.
O problema é separarmo-nos deles. Depois de dar voltas à cabeça decidi começar com duplicados. Escolhi o Trincapregos, de Alberto Cohen e A ressureição de Mozart, de Nina Berberona, ambos da Contexto.
São livros de que gosto muito e além disso, como a editora já não existe, daqui a pouco serão muito difíceis de encontrar.
O segundo passo é preencher os dados no site da bookcrossing e fazer as etiquetas.
Por fim é só "libertar" os livros. Escolher um sítio que garanta que eles não se percam nem acabem no lixo. E que tal uma livraria? Paradoxal? Nem por isso.
Fui visitar a Poetria que abriu há cerca de dois meses e se dedica em exclusivo à poesia e ao teatro. As livreiras são muito simpáticas e gostaram da ideia, por isso os livros lá ficaram à espera de alguém.
Passem pela Poetria, regalem-se com estantes cheínhas de poesia e, como quem não quer a coisa, deitem a mão ao Cohen ou à Berberova.
POETRIA - Rua das Oliveiras, mesmo em frente ao Auditório Nacional Carlos Alberto, no Porto.
A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos
durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo
tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração
José Tolentino Mendonça, "A que distância deixaste o coração"
@ Assírio & Alvim
Nem de propósito. Andava à procura de links sobre as esculturas do Juan Muñoz e encontrei um excelente texto do Óscar Faria, publicado no último Mil| Folhas.
Começa assim:
Em ensaio publicado no catálogo da última edição da iniciativa "Skulptur Projekte in Münster" (1997), Daniel Buren aponta como uma das saídas possíveis para a arte pública a recuperação do conceito de beleza. Esse desígnio, hoje tão distante daquilo que se pode ver nas rotundas e praças do nosso país, liga-se certamente à definição do enciclopedista francês Denis Diderot, para quem beleza era a qualidade de gerar no espectador uma ideia de relação. Por outro lado, em "Arte e Eros, Um diálogo sobre Arte", a romancista inglesa Iris Murdoch coloca as seguintes palavras na boca de Sócrates: "Assim, a nossa verdade tem de incluir, tem de 'adoptar' a ideia de estar abaixo do melhor, de que todo o nosso pensamento será sempre incompleto e toda a nossa arte contaminada pelo egoísmo." Por seu lado, um outro participante na discussão, Acasto, era da opinião que a arte é verdade.
...
Por favor, sigam o percurso e tentem responder ao 4º parágrafo --›
7. o cheiro do creme nívea
6. o cheiro dos manjericos de São João
5. o cheiro a bolachas da Rua Entre Paredes
4. o cheiro de um gin tónico
3. o cheiro da chuva na terra seca
2. o cheiro do mar quando está nevoeiro
1. o cheiro que se desprende das figueiras
Pascal Comelade em versão dupla: Swing Slang Song (com a notável participação de PJ Harvey em "Love too soon") e Live In Lisbon And Barcelona Ninetynine.
Groping back to bed after a piss
I part thick curtains, and am startled by
The rapid clouds, the moon's cleanliness.
Four o'clock: wedge-shadowed gardens lie
Under a cavernous, a wind-picked sky.
There's something laughable about this,
The way the moon dashes through clouds that blow
Loosely as cannon-smoke to stand apart
(Stone-coloured light sharpening the roofs below)
High and preposterous and separate -
Lozenge of love! Medallion of art!
O wolves of memory! Immensements! No,
One shivers slightly, looking up there.
The hardness and the brightness and the plain
Far-reaching singleness of that wide stare
Is a reminder of the strength and pain
Of being young; that it can't come again,
But is for others undiminished somewhere.
Philip Larkin
o título da música 'Lozenge of Love' dos Radiohead é tirado deste poema do Philip Larkin.
no site fabuloso dos Radiohead é possível ler a letra e ouvir a música. na mesma página também é possivel ouvir- se jonny reading lendo "Home is so sad".
Afinal, continuamos a falar de Bergman.
Logo à noite a rtp2 vai exibir "Infidelidade" , de Liv Ullman com argumento de Ingmar Bergman. É um belíssimo filme que nos faz recuar às agruras das "Cenas da vida conjugal". Não é por acaso que voltamos a encontrar Erland Josephson.
Preparem-se para um filme denso e longo mas também magnífico.
O roteiro de “Persona” não se assemelha àquilo que costumamos designar por roteiro.
Quando se escreve um roteiro também se leva em conta as dificuldades técnicas. A bem dizer, é uma partitura que se escreve. Depois é só questão de colocar as vozes diante do atril e deixar a orquestra tocar.
Não sou pessoa para chegar ao estúdio ou ao lugar onde se realiza a filmagem e me convencer de que “este negócio vou solucionar de uma maneira ou de outra”. Para mim não é possível trabalhar a partir de uma improvisação. Eu só me atrevo a improvisar se sei que posso apoiar-me num plano meticulosamente traçado. Não sou capaz de confiar na inspiração quando me encontro no local de filmagem.
Quando lemos o texto de “Persona”, talvez dê a impressão de ser uma improvisação. Mas não. Esse texto foi rigorosamente concebido. Apesar disso, nunca repeti tantas cenas em minha vida como nesse filme. E quando digo que repeti cenas, não quero dizer filmagens de uma e mesma cena, no mesmo dia, mas sim novas filmagens por não ter ficado satisfeito com as sequências reveladas de cada dia.
A filmagem de “Persona” começou em Estocolmo e, no princípio, não correu nada bem.
Depois, pouco a pouco, pudemos dizer: isto vamos fazer melhor, aquilo podemos arranjar de outro modo, e assim por diante. Ninguém se irritou. E ganha-se muito quando ninguém começa a dizendo: foi culpa minha. Além de o filme ter ganho bastante com o facto de se terem manifestado sentimentos pessoais durante a filmagem, a qual se pode classificar de filmagem feliz. Apesar do cansaço que sentia, experimentei uma liberdade ilimitada com a câmara e com a equipa técnica.
Com este filme, “Persona”, e, mais tarde com “Lágrimas e suspiros”, fui o mais longe que pude quanto à técnica narrativa. Isto é, com total liberdade toco em segredos para os quais não existem palavras e que só a cinematografia pode patentear.
Este espectáculo é baseado no vazio.
É um espectáculo sobre telenovelas e frases bombásticas sobre romances de cordel e sapatos prada e golpes de misericórdia, vestidos miou-miou e jantares vegetarianos, os campos de refugiados e as madeixas no cabelo, as acções humanitárias e o combate à celulite, o meu carro, a minha empregada, os meus electrodomésticos e a minha carreira e o combate ao el niño, ao efeito estufa, a clínica veterinária dos meus gatos, o desemprego e as guerras étnicas.
Este espectáculo é sobre um tempo de pessoas empalhadas, com sentimentos empalhados - é um espectáculo de espantalhos.
Os espantalhos somos nós. Lúcia Sigalho
Hoje e amanhã no Castelo de Montemor-o-Velho às 22h30.
I work all day, and get half-drunk at night.
Waking at four to soundless dark, I stare.
In time the curtain-edges will grow light.
Till then I see what's really always there:
Unresting death, a whole day nearer now,
Making all thought impossible but how
And where and when I shall myself die.
Arid interrogation: yet the dread
Of dying, and being dead,
Flashes afresh to hold and horrify.
The mind blanks at the glare. Not in remorse
--The good not done, the love not given, time
Torn off unused--nor wretchedly because
An only life can take so long to climb
Clear of its wrong beginnings, and may never;
But at the total emptiness for ever,
The sure extinction that we travel to
And shall be lost in always. Not to be here,
Not to be anywhere,
And soon; nothing more terrible, nothing more true.
This is a special way of being afraid
No trick dispels. Religion used to try,
That vast moth-eaten musical brocade
Created to pretend we never die,
And specious stuff that says No rational being
Can fear a thing it will not feel, not seeing
That this is what we fear--no sight, no sound,
No touch or taste or smell, nothing to think with,
Nothing to love or link with,
The anaesthetic from which none come round.
And so it stays just on the edge of vision,
A small unfocused blur, a standing chill
That slows each impulse down to indecision.
Most things may never happen: this one will,
And realisation of it rages out
In furnace-fear when we are caught without
People or drink. Courage is no good:
It means not scaring others. Being brave
Lets no one off the grave.
Death is no different whined at than withstood.
Slowly light strengthens, and the room takes shape.
It stands plain as a wardrobe, what we know,
Have always known, know that we can't escape,
Yet can't accept. One side will have to go.
Meanwhile telephones crouch, getting ready to ring
In locked-up offices, and all the uncaring
Intricate rented world begins to rouse.
The sky is white as clay, with no sun.
Work has to be done.
Postmen like doctors go from house to house.
A edição de autores russos continua a bom ritmo. Desta vez é a Relógio d' Água que publica "Contos" de Aleksandr Púchkin, com tradução de Nina e Filipe Guerra.
Púchkin foi o primeiro escritor russo a escrever não em francês, como era hábito e de bom tom, mas em russo, língua que aprendeu com a ama. Desconfio que foi também com ela que aprendeu uma série de histórias tradicionais russas que irá utilizar nos seus livros.
Extremamente versátil, Púchkin escreveu romances, poemas, peças, novelas e contos. E, para além de os escrever também os ilustrava. Os seus manuscritos são muito bonitos.
da esquerda para a direita: Acampamento de ciganos, para o poema "Os Ciganos", e Bebendo chá, para o conto "O Coveiro".
a esquerda para a direita: dois autoretratos, no primeiro Púchkin desenha-se a cavalo para "A viagem para Arzum durante a campanha de 1829", e um autoretrato feito para o seu primeiro livro de poemas
Recentemente surgiu uma nova linha de texto na nossa barra de publicidade. Não sei bem o que é que quer dizer mas percebo que se relaciona com palavras que existem no corpo do blog. Às vezes criam-se frases muito engraçadas que parecem cheias de segundos sentidos. Enquanto o blog não abre entretenho-me a ficcionar.
Há bocado dizia assim:
Searches: • ingmar bergman • bergman • vai • lobo
Eu aqui com as “Imagens“ do realizador sueco na mão fiquei de boca aberta perante a beleza e pontaria da frase. E ninguém a escreveu...
Depois da longa explicação, o dia declina. Quando Alma está prestes a adormecer, é como se alguém andasse pelo dormitório, como se a névoa vinda de fora entrasse nele para a enregelar, como se uma angústia cósmica desabasse sobre ela. Então Alma levanta-se para vomitar, mas não consegue. Ao voltar para a cama, vê a porta do quarto da senhora Vogler entreaberta. Quando entra, vê a senhora Vogler desmaiada no chão. Em pânico corre para o telefone, mas o aparelho não dá linha. Ao voltar para junto do corpo inerte, olha-o com os olhos semicerrados e, subitamente, as duas mulheres trocam de carácter entre si. Será desta maneira, embora ainda não saiba muito bem como. Mas ela experimenta, com lucidez e até o absurdo, o estado de espírito da outra. A senhora Vogler é agora Alma, e ela fala-lhe com a sua voz. Depois ficam sentadas uma diante da outra, falando com entoações e gestos. Atormentam-se uma à outra, ofendem-se, depois riem e brincam. Como se fosse uma cena de espelho.
A explicação é um monólogo dobrado. Ele vem, por assim dizer, de dois lados. Primeiro de Elisabet Vogler, depois da enfermeira Alma.
O fotógrafo Sven Nykvist e eu, originalmente, tínhamos pensado numa iluminação connvencional para ambas as actrizes, Liv Ullmann e Bibi Andersson, mas não deu bom resultado. Concordamos então em pôr uma metade do rosto numa escuridão total, não havendo sequer uma luz de compensação.
Depois, na parte final do monólogo, foi um passo natural combinar as duas metades iluminadas dos rostos, fazendo com que se integrassem numa só face.
A maior parte das pessoas tem uma metade do rosto mais fotogénica do que a outra. As fotografias meio iluminadas dos rostos de Liv e de Bibi que ligamos uma à outra mostram as suas metades feias.
Quando recebi do blaboratório o filme com esta duplicação, pedi a Liv e a Bibi que viessem ao estúdio de montagem.
Surpresa, Bibi exclamou: “Como vocês está esquisita, Liv!” E Liv por sua vez disse: Mas essa cara aí é a sua, Bibi. É você que tem um ar esquisito!” Quer dizer, ambas negaram espontaneamente as metades menos bonitas de seus rostos.
Uma noite quente. Numa esplanada junto ao rio, fazemos planos: alugar bicicletas, dar a volta à ilha, atravessar a mata que leva à praia, ir jantar ao Coluna, fotografar os painéis quinhentistas da igreja matriz…
A memória e as expectativas. A nossa vida encontra-se entre as duas.
Can photographs change the way we think? In an exclusive extract from her new book, Susan Sontag argues that while shock and horror can wear off, there are some images that never leave us.
É um extracto de "Regarding the Pain of Others", publicado na edição de sábado do Guardian
O verão é feito de coisas
que não precisam de nome
um passeio de automóvel pela costa
o tempo incalculável de uma presença
o sofrimento que nos faz contar
um por um os peixes do tanque
e abandoná-los depressa
às suas voltas escuras
Logo às 22h00, o Mezzo vai transmitir, mais uma vez, o concerto da Marisa Monte gravado em 1994 no "Palais des beaux-Arts" em Bruxelas.
O alinhamento é o seguinte: Maria da verdade, A menina dança, Eu não sou da sua rua, Ao meu redor, De noite na cama, Diariamente, Pale Blue Eyes, Dansa de solidão, Ensaboa, Xote das meninas, O céu, Segue a seco, De mais ninguém, Preciso me encontrar, Give me love, Beija eu, Na estrada, South American way, Chocolate, Balança a perna e Lenda das sereias.
Em meus tempos de rapaz, havia uma loja de brinquedos onde se podia comprar rolo de filme de nitrato, já utilizado. Custava cinco centavos o metro. Eu punha trinta, quarenta metros de filme num banho forte de soda cáustica durante meia hora, desfazendo assim a emulsão, pelo que as imagens desapareciam. A fita ficava branca, virgem, transparente, sem nenhuma imagem.
Depois, com tintas de várias cores, eu desenhava bonecos novos. Quando, depois da guerra, apareceram os filmes de Normam McLarens directamente desenhados no celulóide, aquilo não era novidade nenhuma para mim. Tiras de filme que rolam no projector, explodindo em curtas sequências de imagens, são coisas que trazia dentro de mim há muito tempo.
Durante o mês de Maio tinha ainda ataques de febre:
Toda esta febre esquisita e todas estas reflexões a sós. Nunca estive tão bem e tão mal na minha vida. Creio que se me esforçar, talvez logre algo único que até aqui não me foi dado atingir. Uma transfiguração do motivo. Uma coisa que se dá com simplicidade, sem pensarmos como aconteceu.
Por intermédio da senhora Vogler, Alma procura a sua própria pessoa, aprende a se conhecer.
Alma conta uma longa história da sua vida, absolutamente banal. Fala da sua paixão por um homem casado, do aborto que fez, de Karl Henrik que, afinal, não ama e com o qual lhe é difícil partilhar a cama. Depois bebe vinho, revela mais intimidades, começa a chorar, acabando nos braços da senhora Vogler.
Esta se condói com tudo aquilo. A cena vai desde a manhã até ao meio-dia, continua à tarde, prolonga-se até cair a noite, mantendo-se até ao raiar do dia seguinte. Alama afeiçoa-se cada vez mais à senhora Vogler.
A passagem que se segue foi escrita em Ornö, em Maio. Estou proximando-me do ponto central tanto de “Persona” como de “A pele da serpente”:
A senhora Vogler tem amor à verdade. procurou-a em tudo, na vida, e, às vezes, lhe pareceu encontrar algo que estava perto dela. Existente, duradouro. Mas, de repente, a vida a traía. A verdade então se desvanecia, desaparecia ou, pior dos casas, se transformara numa mentira.
Já agora, o meu detective preferido tem um nome muito mais adequado à função: chama-se Alack Sinner (José Muñoz e Carlos Sampaio),... mas isso é um assunto para o Beco das Imagens
Recebemos um mail do detective Lima , que não conhecemos de lado nenhum, perguntando, assim mesmo no gerúndio e com dois pontos de interrogação: "Você está sendo traído"?
Fui indagar e descobri um texto brilhante : "O adultério virtual e sua conotação".
Na citação que dá conta da posição da Igreja Católica (apesar da fonte não me parecer lá muito segura) e que diz assim: "A traição por e-mail e contatos sexuais imaginários são tão condenáveis quanto os condenáveis encontros físicos", pareceu-me encontrar a mãozinha do Diácono Remédios. E o § 9 também é muito interessante...
Rickie Lee Jones em concerto, às 22h00 no Mezzo. Para abrir o apetite, que tal uma voltinha no site oficial?
Melhor fotografia: Annie Leibovitz
Melhor companhia: Rickie, Waits and Sam Diego em Inglaterra, Agosto de 1979
minha amiga Alexandra (com olhar de escorpiona aguçado) escreveu-me, fazendo o seu comentário sobre o artigo acerca d'Os Espaços em Branco de Agustina Bessa- Luis, que saiu ontem no Mil Folhas. aqui fica:
margarida rebelo pinto alerta: não há coincidências.tipo os avisos nos cigarros marlboro: fumar provoca cancro.
agustina bessa luís , tão dada a aforismos , apreciaria certamente a tirada.e contaria uma historia ancestral para ilustrar o dito.a audiência apreciaria.haveria riso em sintonia.as gentes no afã de partilhar do universo das genialidades literarias acenam .e acenam.e acenam.e perdem o juìzo crìtico.
será que ninguém leu clarice ? quem? CLARICE LISPECTOR.
há um livro ( serve a palavra livro , serve a palavra literatura para clarice?) desta autora( ?) que termina :
« -Eu penso , interrompeu o homem e a sua voz estaca lenta e abafada porque ele estava sofrendo de vida e de amor , eu penso o seguinte : ».
É o livro acaba assim.isso mesmo , com dois pontos.clarice em todo o seu esplendor.o livro : Uma Aprendizagem ou o Livro dos prazeres. Está editado pela Relógio dÁgua , com a graça dos deuses , que poucas são as obras do Brasil que cá nos chegam.
Então e ninguém lê ou leu a Clarice quando tanto falam do livro de Agustina e do facto de , também este último , terminar assim , com dois pontos?
Não há coincidências , pois não , mas descoincidências não faltam.
Engraçado , mas senhores jornalistas , há que pensar antes de encomiar.
On Reading é um livro sobre a ideia de leitura, isto é, sobre a visão da leitura. Como todos os actos humanos que exigem uma lenta e afeiçoada aprendizagem, ler, a visão da leitura, move à piedade. Ler na rua, entre os ruídos dos passeantes, dos automóveis, estar protegido, sentado no chão entre os detritos próprios das cidades, chupando um sorvete, ou guardado em casa, guardado pelos deuses do lar, o anjo-da-guarda da infância: querer ir ter, querer ir ter com alguém, ter marcado encontro com alguém:"agora enquanto posso..."; "ah! depois de estar tudo arrumado", "antes que a luz se extinga", "daqui a pouco não haverá tempo", "teria ficado aqui?", "meu Deus, conseguirei ir até ao fim?". À luz gordurosa do refeitório do asilo, um velho lê uma carta (Paris, 1929), refúgio da velhice, a sua prova;(...); os anjos no intervalo da representação teatral revendo o seu papel (Nova Iorque, 19 de Abril de 1938); os inúmeros refugiados nas varandas, sacadas, telhados (...). Esquece-se. Esquece-se o frio, os pés gelados (como na única fotografia que provém da Hungria, Estergom, 1915), o cheiro nauseabundo, a multidão, a alegria alheia, a dor de cada um, estar tanto tempo só. Pouco importa o que lêem todos eles, histórias de quadradinhos,notícias desportivas, o livro das salmos, o livro do Jacob, cartas, anedotas (...). Trata-se sempre de participar num segredo. No acto de leitura isso que é o próprio do homem-"um animal jamais substitui uma coisa pela outra", como diz Clarice Lispector-é levado ao seu limiar mais cego; rigorosamente falando, ler não substitui, suspende e faz caminhar, ler é um dos modos de antecipação mais prodigioso, em que o espírito se guarda e inspira, aprofundando, alargando e contraindo o tempo.
Maria Filomena Molder, Semear na Neve- Estudos sobre Walter Benjamin, Relógio d' Água Editores, 1999.
Amar o mar completa a minha vida
com o tacto de um amor imenso.
Amar ateia a margem
arrebata-me de júblio e paixão.
Mas veio o vento e, por momentos,
amargurou o meu corpo, a oscilar.
E está o sol aqui, depois de uns dias
de jardim obscurecido, a beber sombra.
E sei que os átomos zumbem
e dançam como os insectos
ébrios em redor do pólen.
De um sonho
Uma casa que sonha com o mar
tem a luz que está a ser sonhada.
Nela, os habitantes vivem e morrem,
ouvindo só o som do mar distante.
Porém um dia, os habitantes saem
para o mar. A casa acorda
e não mais se recorda do seu sonho,
deixando entrar outro sol da realidade.
Fiama Hasse Pais Brandão, As Fábulas, Edições Quasi, 2002.
um amigo meu voltou a encontrar um site que eu,há muito, queria voltar. o poema "Daddy" lido pela poeta S Plath, os poemas de Augusto Campos cantados pelo Caetano Veloso, as leituras de La Toison D'Or e Les Voleurs d'Enfants pelo autor Jean Cocteau são algumas de muitas muitas razões que me faziam querer muito encontrar este site: http://www.ubu.com/ agora não há maneira de perdê-lo. mais do que excelente!!!!!!
Acrescentamos uma série de links nos “Blogs cá de casa”, que estavam em falta.
A descoberta de hoje foi reflexos de azul eléctrico . É um blog de reflexão, de visita obrigatória.
Continuando o seu excelente trabalho, a Zero em comportamento vai apresentar nos próximos dias 29, 30 e 31 no Cine-Estúdio 222, uma cópia restaurada de “Persona”, de Ingmar Bergman.
É um filme a não perder. Merece ser visto e merece ser pensado, por isso resolvemos convidar o próprio realizador sueco para lançar algumas pistas de leitura. Começamos hoje a publicar alguns excertos do livro “Imagens”, editado no Brasil pela Martins Fontes. O livro foi escrito em discurso directo, parece uma conversa ou até mesmo um blog.
Senhores e senhoras: Ingmar Bergman
O que se segue foi escrito em Maio, em Ornö. refiro-me simultaneamente ao tema de “Persona” e de “A pele da serpente”. São notas da minha agenda de trabalho com data de 29 de Abril:
Vou tentar seguir as seguintes normas:
Café da manhã às sete e meia; juntamente com os outros pacientes.
Arranjar-me para o passeio matinal.
Não ler jornais ou revistas durante este período.
Não ter nenhum contacto com o teatro.
Não abrir cartas, telegramas ou receber mensagens telefónicas.
Ao fim da tarde estou autorizado a ir para casa.
Sinto que se aproxima o combate decissivo. O importante é não o odiar. Tenho de chegar a alguma conclusão, de contrário o Bergman vai dar em pantana.
Lendo isso, é evidente que a crise que atravessava era grave. Mais tarde, elaborei normas idênticas ao tentar suplantar toda aquela história dos impostos. A meticulosidade foi o meu bote de salvação.
E desta situação crítica foi surgindo “Persona”:
A personagem foi actriz – talvez possa transigir quanto à profissão? Depois, um dia, deixa de falar. Não há nada de estranho nisso.
Vou iniciar o filme com uma cena em que o médico informa a enfermeira Alma do que aconteceu à paciente. Essa é a primeira cena fundamental. Enfermeira e paciente se aproximam uma da outra, passando a ser como unha e carne. Mas a paciente não fala, rejeita a própria voz. Não quer faltar à verdade.
Estes são, portanto, os primeiros apontamentos da minha agenda de trabalho, com data de 12 de Abril. Ali também está uma coisa que não fiz, mas que tem relação com “Persona”, sobretudo com o título: “Quando o namorado de Alma, a enfermeira, lhe faz uma visita, ela apercebe-se pela primeira vez do modo como ele fala, nota como ele a toca, ficando aterrorizada porque percebe que ele está representando, está fazendo um papel.”
Mas quando sofremos é horrível, e então não representamos.
Confesso que essa fase da minha vida foi extremamente difícil. Tinha o pressentimento de que a minha existência estava ameaçada:
Será possível transpor isso para um processo interior?. Quer dizer, dar a entender que é uma composição a várias vozes, um “concerto grosso” no interior da mesma alma? De qualquer modo os factores do tempo e do lugar serão de importância secundária. Um segundo poderá abranger um largo lapso de tempo, conter uma série de réplicas dispostas sem nenhuma relação umas com as outras.
No filme concluído vê-se isso. Os actores mudam de lugar para lugar sem que os vejamos se deslocarem. Quando o fazem, a acção é prolongada ou encurtada, ficando assim anulado o factor tempo.
Depois surge uma coisa relacionada com algo muito antigo de minha infância:
Imagino um pedaço de filme branco, sem imagens. Esse pedaço passa uns segundos no projector e, pouco a pouco, ouvem-se palavras vindas da fita sonora (talvez só durante um instante). Depois surge justamente a palavra que eu imagino, logo seguida de um rosto que mal se distingue no branco da fita. É o rosto de Alma e da senhora Vogler.
Os “três homens”, da esquerda para a direita: Carl Hentschel (Harris), George Wingrave (George) e Jerome K. Jerome (J)
Anda por aí a segunda edição de “Três homens de bicicleta” (Three men on the Bummel). É muito divertido e recomenda-se. Alguns anos depois de um famoso passeio de bote, os três homens sentem necessidade de arejar e resolvem ir até à Floresta Negra. Segue-se um retrato hilariante do povo alemão.
A edição é da Cotovia e tem tradução de Luísa Costa Gomes.
Hoje é a última oportunidade para ver Goblin Market, uma co-produção de Coimbra e do Arexploratóriodasartes. O espectáculo está marcado para as 17h00 na mata do Jardim Botânico, em Coimbra.
Criado a partir de um poema alegórico escrito em 1859 por Christina Rossetti sobre a tentação e redenção femininas, o espectáculo apresenta-se sob a forma de um conto para crianças.
Através de um imaginário onírico enquadrado pela voluptuosidade da natureza, Goblin Market , descreve o encontro inevitável de duas irmãs, Laura e Lisa, com os sinistros Goblins, seres bestiais que habitam a floresta e que ao cair da tarde seduzem as donzelas com o seu canto e com os seus luxuriantes frutos.
Ilustrações de Laurence Housman para a edição de "Goblin Market" da Macmillan, 1893 (Londres)